Consultor de reestruturação (Turnaround): você não é um super-homem
- expert empresarial
- 14 de abr.
- 4 min de leitura
Vejo aqui no LinkedIn super histórias de reestruturação magníficas, sempre com 100% de êxito e todas as partes em festa. Natural, poucos são aqueles dispostos a admitir que estão sujeitos a falhas, que não são o super top master.
A lógica das redes é construir uma reputação de autoridade irretocável e inquestionável. Tudo que publicamos, ainda mais em uma rede como o LinkedIn, pretende o marketing pessoal.
No entanto, essa conduta considero danosa para quem está começando na área, pois ao consumir esse perfil de conteúdo, sempre positivo, adquire a concepção de que para ser competente sua trajetória deve ser imune a erros.
Isso é fantasia, pois os erros ensinam tanto quanto os acertos e a baixa tolerância a falhas pode estimular a insegurança, fatal para tomada de graves decisões.
Para os futuros clientes, essa imagem de infalibilidade do gestor de reestruturação pode estimular uma conduta displicente quanto à própria conduta. O seu comportamento pode induzir o gestor a erros, a influenciá-lo a tomar direções errôneas. Ninguém é infalível.
Por isso, acredito que será proveitoso aproveitar o espaço para compartilhar erros que senti na pele e ensinamentos da minha trajetória de 25 anos como consultor de Reestruturação ( Turnaround), e também os que pude testemunhar ocorrendo com terceiros.
Os erros são um aprendizado e compartilhá-los pode ser tão enriquecedor do que os cases de sucesso.

ERROS / APRENDIZADOS de Turnaround
1. Se apegar demais a técnica. Um erro que cometia no começo de carreira era ser rígido demais quanto a técnica do processo de reestruturação. Só avançava a casinha no tabuleiro quando tudo estava exatamente do jeito que queria. Implementar mudanças nem sempre é simples, a dificuldade pode variar de empresa para empresa. A lentidão e o desgaste dessa imposição potencializam danos de relacionamento irreversíveis com os colaboradores. Compreendi que o processo de reestruturação não é só, ou não deve ser, apenas técnica.
2. Ignorar que a política faz parte da comunicação entre as partes envolvidas. Alguns entraves são insuperáveis por questões maiores que você não tem controle. Só existe uma solução: adaptar. Compreender quais são as batalhas possíveis ou não de êxito é essencial par evitar perder tempo e acelerar resultados.
3. Não ter coragem em dizer não para situações “nebulosas”. É preciso ter fibra. Não defendo inflexibilidade, mas o consultor deve entender quais são os pontos inegociáveis para garantir o sucesso do seu trabalho. Isso pode envolver bater de frente com pessoas graúdas, mas não tem jeito. Ou ser firme na hora que precisa ou colocar em risco o polpudo contrato que tanto batalhou. Na hora mais difícil, lembre-se disso: seguir com as suas convicções o recompensará no futuro. Você deve garantir entregar o que prometeu.
4. Aliar-se a assessores, consultores, CEO e diretores que querem continuar com a mamata. Isso você verá infelizmente com certa frequência. Pessoas que se mostram muito prestativas e agradáveis de começo, mas com o propósito de conquistar sua confiança para atrapalhar o trabalho. São pessoas que querem que a empresa continue em estado de recuperação porque, de algum modo, se beneficiam com tal situação. Recomendo ir com calma de começo, conhecer o terreno e identificar quais são as partes que representam o problema e quais trabalham efetivamente para uma solução. Não digo ser antissocial, mas preservar um certo distanciamento para enxergar melhor o todo.
5. Demorar para fazer as mudanças. Mesmo separando friamente as pessoas partes do problema e os da solução, houve casos em que isso não facilitou o processo como se esperava. Isto se deveu por se constatar que as pessoas parte do problema eram aparentemente imprescindíveis para o negócio. Especialmente no começo da carreira, ser obrigado a dizer a quem manda se tratar do calcanhar de Aquiles, não é fácil e requer maturidade e coragem. O adiamento desse momento crítico ocasionou transtornos que poderiam ter sido evitados. Não demore a agir, tenha consciência que conversas difíceis serão parte de sua carreira e se você as promove é para um bem maior.
6. Ofertar soluções que, na prática, não poderão ser implementadas. Pior: oferecer soluções que você nem acredita para dizer o que o cliente quer ouvir. Seja firme e tenha coragem. Não queira apenas agradar.
7. Não reconhecer que você precisa de apoio e parceiros especialistas. Isso é um erro grave e pode ser estimulado pela ideia de que deve ser um super-homem, a resposta para todos os problemas. Sua obrigação, na verdade, é encontrar as soluções e não ser, necessariamente, a fonte primária das soluções. Entende a diferença? Não é pecado nenhum você pedir ajuda de um especialista para formar opinião e, assim, definir um caminho.
8. Autoconfiança excessiva. Aqui, talvez, a mais importante: tenha humildade e saiba que cada projeto de reestruturação trará novas experiências e novas formatações. Esqueça o control C e control V. A experiência ajudará apenas como guia e não como mapa do porto de destino.
Tenha coragem, seja firme, se apegue a princípios, mas não se esqueça: você não é o super-homem, não é a prova de balas. Peça ajuda. Falhas acontecem e devem servir de aprendizado.
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