Fee for service da saúde suplementar é CAUSA ou SINTOMA da crise do setor?
- expert empresarial
- 14 de abr.
- 3 min de leitura
A remuneração por serviço é apresentada como uma das principais causas para deterioração da qualidade do atendimento na rede privada no Brasil. Fama que vem do fato de estimular as instituições de saúde a oferecer mais serviços, mesmo que “desnecessários”, por isto lhe garantir maiores produtividades.
Esse modelo de pagamento, na visão dos críticos, estaria construindo instituições de saúde privada que não priorizam a qualidade do atendimento, em benefício da produtividade (Faturamento).
Por que tanta dificuldade de mudar o centenário modelo de remuneração fee for service?
É o que pretendo refletir neste artigo.
A ponta do iceberg
Entendo que a crise na saúde suplementar tenha como origem causas multifatoriais (novo mercado, alta demanda, tecnologia).
Sim, concordo que um modelo de atendimento que associa a produção e não a qualidade, mas a quantidade de serviços oferecidos não é o ideal. É a causa de muitas das queixas e tensões da relação prestadores e tomadores dos serviços de saúde.
Porém, considero esse modelo de atendimento apenas mais um ingrediente que agrava o problema, e não a causa de todos os males. Por exemplo, um dos grandes desafios da saúde suplementar de nossos tempos é a alta demanda.

Com o envelhecimento da população em proporcionalidade ao aumento da expectativa de vida, oferecer estrutura para atender esse contingente é extremamente desafiante no sistema de saúde.
O fee for service não exerce influência direta para este complicador.
O mesmo em relação a velhos problemas que ampliam as dificuldades, como inflação alta, custos dos procedimentos e regulamentação.
Vejo o fee for service como um sintoma de um modelo de negócio (sim, saúde também é negócio) que precisa encontrar um novo caminho, mas ainda não o encontrou para melhorar a experiência oferecida e viabilizar o sistema de saúde.
Entraves para a substituição do fee for service
Atuando há mais de duas décadas no front como CEO, CFO, gestor de reestruturações em diversas unidades de saúde, pude observar alguns pontos em comum que impedem essa mudança do modelo de remuneração:
Falta de integração de dados;
Falta de conhecimentos efetivos dos custos dos seus serviços;
Dificuldade em precificar os serviços, considerando as variabilidades de cada paciente;
Falta de alinhamento dos processos com a linha de cuidado efetivo do paciente - no papel tudo funciona, mas, na prática, existe uma discrepância enorme;
Dificuldade do sistema de saúde em entender o novo paciente;
Setor altamente regulado por diversas entidades governamentais e de classes;
Sem dúvida, o principal: a falta de confiança dos prestadores e tomadores. Sem esse alinhamento, dificilmente teremos como resolver os demais itens apontados acima.
Precisamos entender que as mudanças dos negócios centenários geralmente vêm pela disrupção e não apenas pela transformação interna (adaptação).
Com isto, quero dizer que mudanças em processos tão consolidados ocorrem quando há avanços tecnológicos que promovem mudanças irresistíveis para a perpetuação do negócio.
O surgimento de empresas como Amazon, Uber, Airbnb, filhas da era digital, impactou diversos negócios tradicionais que tiveram que se adaptar para concorrer ou incorporar as soluções que essas empresas passaram a oferecer dentro do seu modelo de negócio.
Para o setor de saúde, a grande aposta de tecnologia disruptiva é a Inteligência Artificial, que promete e deve mudar a nossa forma de cuidar da saúde.
Resta saber se o setor de saúde privado atual terá oxigênio suficiente para aguardar essa disrupção chegar de FORA para DENTRO.
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